DIA DO ENAMORAMENTO

 



Enamoramento, prefiro assim. E de preferência que não tivesse dia, pois comemorações podem acontecer aí pelo tempo e sem combinados.
A vida chama, mostra, solicita. Mas o que é sentido no coração é sagrado e ninguém tira.
Desde criança, “me autorizei” diante de todos os direitos que entendia serem meus. Estes direitos tinham e têm a ver com afeto, com gostar de quem e do que acontecer e movimentar cada célula.  Te revira? Se sim, tem que caber, é preciso acomodar.
Meu vulcão é a entrega e algumas danações que compõe meu repertório interno. Não deixo sentimento, alegria, envolvimento para lá. O encantamento me arrebata feito tempestade e eu gosto assim.

Como é que não pode sentir isso ou aquilo? Quem disse, inventou, regrou esta bobagem? Ah, por favor, menos.
Desde cedo, se fizermos as contas, quem dá para a coisa vai se enredando nessa espécie de cantoria continua, como quem vai trançando fita no cabelo sem fim.
Junta poesia, caderno, faz planos que se desfazem e se refazem em outros alinhavos da vida. Escolhe pano macio, cheiro de flor, fotografia, playlist e água quente.
Já tive receio de que poderia esquecer da voz dos meus encantamentos. Mas, receio desfeito, pois nada de importante é esquecido.
Em um segundo, se retoma o conversê e a proximidade que parece ter corrido o risco de se perder.
Vinculo, afeto, intimidade emocional, compromisso da alma enquanto a entrega for viva.
Tem encontro que chega diferente, sem obviedades e fica por toda uma VIDA.
Um simples olhar de neblina, pode ter o poder, e a desfeita de te levar.
Tem histórias que acontecem sem palavras e está tudo lá.
O maravilhamento não é exclusividade do amor romântico, ele está no cheiro do alimento da infância que traz conforto, no cheiro da água de colônia do meu avô, está no tempo em que minha mãe, a partir da nova parceria casadoira que fez, virou finalmente, pessoa do cotidiano. Faz muito tempo mas valorizo como se fosse hoje.
Maravilhamento é ter estado ali, junto, no segundo em que minha neta saiu de dentro da minha filha e veio conhecer o mundo. Maravilhamento é acompanhá-la nessa descoberta e me ensinar tanto.
Maravilhamento é saber na pele que a eternidade faz parte das coisas que o mundo revela aos poucos.
Maravilhamento é permitir que o enamoramento, mesmo quando cheio de perrengue a filtrar, possa permanecer no coração descompassado.
Maravilhamento é sentir que o coração que você habita em parceria é feito de possibilidades e histórias sendo continuamente escritas.
Muitas e muitas vezes tento intensamente e convictamente, com todas as forças e rezas que conheço, manter o modo pensar ativo no ON.
A paz até pode ser maior, mas o músculo cardíaco, sente falta do descompasso que o cérebro em modo OFF e outros paranauês, oferece.
E pior, hoje, não há pensar que me convença que o improvável não tenha o seu lugar. E recentemente, que ON ou OFF, a inspiração acontece com a mesma força sem capturar a paz.
Antes, fiz casamento por mais duas vezes, relações longas.  Há 26 anos me acertei com isso de estar casada. Só porque a criatura é sábia nestes assuntos, me acalma diante da vida, sabe da minha alma e eu da dela, é pacificado. Achamos um jeito que se renova e transforma. Eu tenho “cabimento” para ela e eu a partir disso, experimentei tudo de outro jeito, que virou  tesouro. Temos o nosso sagrado e nossas singularidades têm um lugar imenso. Certamente, por causa da sabedoria que carrega, quando eu vento forte. Sou criatura quieta, recolhida, silenciosa. Amo madrugadas e gatos. E tudo isso cabe pelo espaço/oxigênio mutuamente ofertado. Enamoramento que espirala e dá conta de compreender e acolher em busca de encontrar uma maneira de que o que for importante e inegociável “tenha cabimento”.  

Mônica Bergamo

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